Um pouco de História  Por: CT2IRJ


Expressões, códigos e siglas usados pelos Amadores ao longo dos tempos
 

  Ham


"Ham: a poor operator. A 'plug.'”

Pouco (ou nada) utilizada na Europa, esta designação dada aos e pelos Amadores uns aos outros, principalmente nos Estados Unidos, tem as sua origens ainda antes do aparecimento da rádio. Esta definição foi dada por G. M. Dodge's em “The Telegraph Instructor”. Esta definição nunca mudou desde o tempo da Telegrafia por fio, usada pelas empresas de Caminho de Ferro. Os primeiros operadores de Telegrafia Sem Fios eram operadores das linhas terrestres que passavam para operadores das empresas marítimas ou de estações costeiras. Traziam na bagagem muito da sua linguagem e muitas das tradições da sua antiga profissão.

Nesses primeiros tempos, os emissores de faísca eram reis e senhores do éter e todas as estações ocupavam a mesma largura de banda – ou mais concretamente - toda a largura de banda com os seus sinais de considerável largura.
Estações Governamentais, embarcações, estações costeiras e o número cada vez maior de estações de amador todas elas competiam pela supremacia de tempo e de sinal nos receptores uns dos outros. Muitas das estações de amador eram bastante poderosas. Dois Amadores operando dentro da mesma cidade podiam efectivamente bloquear todas as outras operações na área. Quando isto acontecia os operadores comerciais, frustrados, costumavam chamar o navio cujos sinais tinham sido “abafados” pelos Amadores e diziam: "SRI OM THOSE #&$!@ HAMS ARE JAMMING YOU."

Os Amadores, possivelmente não familiarizados com o real significado da expressão, “apanharam” o termo e aplicaram-no a eles próprios e usaram-no com orgulho. Á medida que os anos passaram, o significado original perdeu-se.

- Louise Ramsey Moreau W3WRE/WB6BBO
 

  O Código Q

O Código Q passou a ser internacionalmente utilizado em 1912 para suplantar os problemas de linguagem que envolviam as comunicações radio entre navios e estações costeiras de todo o mundo. A lista original de 50 abreviações adoptada por Acordo internacional assinado em Londres, continha muitas das expressões que ainda hoje são familiares aos Amadores - QRN, QRM, QSO, as operações de tráfego QRK, QSY e QRV – estão agora bem além da marca do meio século de utilização continua. QSL ainda tem a definição oficial de 1912 embora informalmente tenha mudado e entrado no normal vocabulário dos Amadores.

Os sinais QN para as operações em rede foram introduzidas nos finais dos anos 30 por W1UE (agora W4IA) para aliviar o fardo dos operadores de controle da rede.
 

  CQ


O sinal telegráfico CQ nasceu no serviço Telegráfico Inglês há cerca de um século atrás, e significava "A Todas as Estações”. Seria uma notificação a todos os postos telegráficos para que recebessem a mensagem. O seu significado estaria próximo dos actuais QNC e QST. Como muitos outros termos que tiveram origem nas linhas terrestres, CQ foi “importado” para o serviço rádio e usado como chamada geral a todas as embarcações pela Companhia Marconi. Outras companhias usavam KA até à convenção de Londres de 1912, onde foi adoptado internacionalmente CQ como o sinal de “atenção” ou “chamada geral”. CQ ainda significa literalmente “atenção”, mas no Serviço de Amador, o seu significado é descrito com precisão por Thomas Raddell, que o comparou a gritar “Eh! Pá!” para dentro de um tubo!

Mas porquê as letras CQ? Do francês, “SÉCUrité, (segurança ou, como entendido aqui “preste atenção”)

Porquê em Francês? Ainda hoje a lingua oficial para os serviços postais é a lingua Francesa, como poderemos verificar nos envelopes e etiquetas para correio Aéreo onde figura a inscrição "Par Avion".
Posteriormente a pronuncia das letras CQ, traduzidas para a lingua Inglesa passaram a ser conotadas com a expressão "Seek You" procuro-te.

A maioria das fontes consultadas considera esta expressão uma forma de mnemónica (auxiliar de memória) que se destinava a associar um determinado grupo de sons -.-.--.- a um determinado evento - a chamada geral ou pedido de atenção a quem escuta

  73


A expressão tradicional "73" vem desde o principio do telegrafo terrestre. Foi encontrado nalgumas das primeiras edições dos códigos numéricos, cada um com uma definição diferente, mas todos com uma só ideia em mente – indicava que o fim da mensagem ou uma assinatura estariam para chegar. Mas não há nenhuns dados que provem que alguns destes códigos fossem usados.

A primeira autêntica utilização de 73 foi na publicação “The National Telegraph Review and Operators' Guide”, publicada em Abril de 1857. Nessa altura, 73 significava "Com Amor, para ti!". Números seguintes da mesma publicação continuaram a usar a mesma definição para o termo. Curiosamente alguns dos numerais usados na altura continuam a ter a mesma definição nos dias de hoje, mas com o passar do tempo o uso de 73 começou a mudar.

Na “National Telegraph Convention”, o numeral foi mudado do tipo sentimental para um sinal vago de fraternalismo. Aqui, 73 seria um cumprimento, uma “palavra” amiga entre dois operadores de telegrafia.

Em 1859, a “Western Union Company” implementou o standard "92 Code". Uma lista de números de 1 a 92 foi compilada para indicar uma série de frases pré preparadas para ser usada pelos operadores. Aqui, no código 92, 73 passa de um sinal fraternal, para um muito floreado "aceite os meus cumprimentos," que estava muito de acordo com o floreado da linguagem da época.

Ao longo dos anos, entre 1859 e 1900, os muitos manuais de telegrafia mostravam variações deste significado. O “The Telegraph Instructor” de Dodge mostrava-o como simplesmente "cumprimentos". O “The Twentieth Century Manual of Railway and Commercial Telegraphy” define-o de duas formas, uma definida como “os meus cumprimentos para si”; mas no glossário de abreviações é listado simplesmente como “cumprimentos”. O “Telegraphy Self-Taught” de Theodore A. Edison mostra um regresso a "aceite os meus cumprimentos". Em 1908, no entanto, uma edição posterior do manual de Dodge, dava-nos a definição actual de "melhores cumprimentos" ou “melhores saudações” com um olhar para trás ao significado antigo noutra parte do manual, onde é listado como “cumprimentos”.

"Melhores cumprimentos" permaneceu desde sempre como o significado “preto-no-branco” 73, mas este adquiriu força como uma forma mais calorosa do significado. Hoje em dia, os Amadores utilizam-no da maneira pela qual James Reid tencionava que fosse - uma "palavra amiga entre operadores".
 

  SOS


A chamada de Socorro, QRRR, nasceu do propósito das primeiras redes de socorro organizadas por Amadores. Estas foram criadas em cidades ao longo da “Pennsylvania Railroad” para prestar à "Pennsy" (e posteriormente outras vias férreas) serviços de comunicações com os comboios na eventualidade da falha das comunicações terrestres – o que acontecia com frequência. O sinal QRR começou a ser utilizado indicando que havia tráfego do caminho de ferro da estação que chamava e que estava relacionado com alguma emergência. A ARRL eventualmente adoptou este sinal para uso por qualquer Amador que tivesse tráfego de emergência e posteriormente o sinal foi mudado para QRRR devido a conflito de definições com o sinal adoptado internacionalmente QRR.

Um dos primeiros sinais de perigo/Socorro foi CQD, introduzido pela Companhia Marconi em 1904 partindo do "chamada geral" CQ e a letra D para "distress" (perigo). O principal problema com o sinal CQD é que este seria apenas utilizado pelas empresas e embarcações que subscrevessem o sistema radio Marconi, e navios de um sistema eram desencorajados de comunicar com navios de outro sistema ou de empresas concorrentes. O problema tornou-se de tal forma complicado que o assunto foi abordado na Conferência Internacional de Radio de 1906, onde um novo sinal universal de socorro foi proposto.

A delegação Americana propôs as letras NC que já eram reconhecidas no Código Internacional para Sinalização Visual. A delegação Alemã propôs SOE que era então utilizada pelos seus navios como um sinal de interrogação semelhante ao CQ (que era unicamente utilizado pelo sistema Marconi). A delegação Britânica, claro, queria que ficasse em uso o sinal CQD.

A convenção achou que SOE seria aceitável excepto que o E final poderia perder-se no QRN, portanto a letra S substitui-o, ficando então SOS. Decidiu-se, pois, na convenção, que, SOS deveria ser enviado como um código de uma só letra com um som diferente de qualquer outro caracter, prendendo dessa forma a atenção de quem o ouvisse. Foi então oficialmente adoptado SOS, mas CQD continuou em uso durante mais alguns anos, particularmente a bordo de navios Britânicos.

Foi só em 1912, após o desastre do Titanic, que o SOS se tornou universal e o uso de CQD gradualmente desapareceu. O operador de radio do Titanic, Jack Phillips enviou ambos os códigos CQD e SOS para ter a certeza de que não houvesse mal entendidos.
 
Já agora SOS não significa “Save Our Ship” ou “Save Our Souls”

  Mayday


Incidentalmente, uma outra chamada de socorro é utilizada por aeronaves em perigo por todo o mundo. Todos nós já ouvimos o termo "mayday" em determinada altura (especialmente em filmes). Isto como é óbvio, não tem nada a ver com o 1.º de Maio.

Como poderemos verificar, em francês, a palavra "m'aidez" significa "ajude-me".

É possível que aviadores Americanos na Primeira Grande Guerra tenham apanhado esta expressão dos aviadores Franceses e a tenham pronunciado erradamente da forma agora reconhecida "mayday, mayday"?
 



Estas e outras histórias da história do Radio Amadorismo podem ser encontradas em:

http://www.arrl.org/tis/info/history.html


Tradução e adaptação:

Salomão

CT2IRJ

 sal.fresco@clix.pt

 



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 Página "Um pouco de história" actualizada em: 23-07-2008
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