O MEU FABULOSO IRMÃO III Por CT1DT

  

Se há pessoas que eu realmente admiro, são aquelas que chegam a “toureiros”, mesmo sem a ajuda dos “peões de brega e moços de forcado…”
Na realidade, em toda a minha já longa vida de 78 anos, nunca encontrei ninguém que se aguentasse 3 minutos sem respirar, mas meu irmão Carlos Mar Bettencourt Faria, era capaz e até ganhou muitas apostas com outros “maduros” que desejavam destroná-lo…
Nos testes de tempo, os concorrentes atiravam-se todos á água ao mesmo tempo e o último a aparecer, é que ganhava a aposta. Cá em cima, vários assistentes, controlavam os tempos nos seus relógios, para que não ficassem dúvidas…
Meu irmão tinha aprendido que, para conservar o mais tempo possível os pulmões e intestinos com ar, ele teria de poupar cuidadosamente o seu ar, mergulhando rapidamente ao fundo e aí agarrar-se a uma pedra enquanto ia observando gozosamente, os seus concorrentes a desistir um após o outro.
Esta “mania” da pesca submarina, já ele tinha muito praticado na Parede, na companhia dos irmãos Percheiros, o Victor, CT1BKK e o Fernando CT1UP, e outros, lá pelos anos 50.
Mas um dia, em Angola, estava ele a fazer pesca submarina a solo, munido da sua magnifica espingarda com arpão, por ele construída e já muito utilizada, quando junto duma rochas bem negras, conseguiu arpoar um belo espécime, com mais de 20 Kg, mas como estava muito perto dele, o arpão entrou e saiu do peixe, pelo outro lado, seguindo “viagem” mais uns metros, até se enterrar numa rocha muito escura, em forma de túnel.
“Agora é que a arranjei bonita”, pensou ele !!!
Os seus 3 minutos já estavam a esgotar-se, mas ele não queria perder o seu belo arpão e resolveu avançar pelo escuro túnel, seguindo o cabo onde ele estava agarrado, tendo de ir empurrando o enorme peixe perfurado, à sua frente.
Mas o malvado arpão é que estava bastante enterrado na rocha e as suas reservas de ar tinham chegado ao fim, pelo que era urgentíssimo voltar à tona de água para respirar.
Mas com vários abanões, ora para a esquerda ora para a direita, ora para cima, ora para baixo, ele lá conseguiu desencravar-se.
Mas para seu grande espanto e tormento, mesmo à boca do túnel, estava à sua espera um enorme peixe que mais lhe parecia um enorme e negro tubarão…
“E agora o que é que eu faço ? “
Então, já com o coração a estalar de aflição e as artérias coronárias a querem rebentar, ele resolveu enfrentar lentamente o peixão, de arpão apontado a ele e, felizmente que o animal, possivelmente tendo achado aquele “peixe” muito estranho para os seus conhecimentos científicos de biologia marítima, lá se foi afastando muito lentamente, até que deixou caminho livre a meu irmão que, num tremendo esgar de sofrimento, e umas valentes vergastadas das suas barbatanas, chegou à tona de água, todo feliz, para poder respirar.
Completamente extenuado, com o seu coração a querer saltar-lhe do peito, deitou-se nas rochas e ali ficou uma data de minutos a descansar e a pensar que, por muito pouco, tinha estado para “dar a alma ao seu Criador”…
Mas ali ao seu lado, esbarbatando desalmadamente com fala de água, estava aquele avantajado peixe ainda enfiado no cabo da sua espingarda submarina…
Assim, contente com a pescaria, arrumou a tralha, retirou as barbatanas e os óculos, enrolou o cabo da espingarda, depois de ter retirado o seu grande peixe, e vai de ir direito a casa.
“E por hoje chega”, balbuciou ele, ainda meio refeito da sua proeza…
Mas esta tinha chegado para ele….


Mário Portugal Leça Faria,  CT1DT

ct1dt@sapo.pt

 


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 Página "O meu fabuloso irmão III" actualizada em: 23-07-2008
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